segunda-feira, 6 de dezembro de 2010
sexagésimo oitavo ~
http://www.youtube.com/watch?v=LWIbTYLNezQ
Olhe para mim e diga que é fácil sorrir mesmo com tudo isso. Por favor, tudo o que eu te peço é que você olhe para mim e me veja como ser humano, não apenas mais uma a ser manipulada.
Não aguento mais, e nem me permito aguentar tudo o que acontece. Não vou me perder entre meus sentimentos antigos, e meus rancores atuais. Faço isso por nós. Apenas, por favor, não ouse me tratar assim, não ouse fingir que você não vê.
Não posso mais ficar guardando esses sentimentos amargurados, mas como poderia esquecê-los, se você apenas os intensifica? Por favor, deixe-me para que eu possa te amar. Deixe-me para que eu consiga voltar ao que era, sem ódio, sem rancor, sem dor.
Não venha a mim com suas verdades absolutas, apenas para arrancar lágrimas e dilacerar sonhos. Não acredito nas suas verdades, assim como você não escuta as minhas. Nunca pensei que pudéssemos chegar aqui.
E agora, o que fazer? Devemos ignorar cada briga, e apenas segurar nossas palavras dentro de nós, para que, futuramente, joguemos as na mesa - ou talvez nas nossas próprias caras? Ou quem sabe devemos ignorar o que somos, e quem somos, sendo apenas pessoas distantes? Será isso o melhor a ser feito? Será a ignorância a melhor resposta?
Prefiro estar errada - como nunca ousei estar. Preciso estar errada. Como poderei acreditar que tudo o que éramos é passado? Poderá ignorar-me de tal forma? Prefere sempre estar certo então?
Eu não posso acreditar que aquela pessoa que eu tanto me espelhava não existe mais. Não posso acreditar que você se foi, e tudo o que restou foram as brigas e as ofensas não proferidas. Será que você se incomoda tanto quanto eu?
Por favor, não suma. Sinto falta de quem você era, não suporto quem você insiste em ser. Não suporto o que nós fizemos conosco, mas também não irei aceitar sufocar sozinha. Se me fere, também será ferido.
Por favor, volte a ser quem era. Eu prometo me esforçar também. Não me machuque mais e prometo não gritar e fingir te odiar.
Por favor, não finja me esquecer.
"O que a memória ama, fica eterno. Te amo com a memória, imperecível."
(Adélia Prado)
quinta-feira, 14 de outubro de 2010
sexagésimo sétimo ~
domingo, 5 de setembro de 2010
sexagésimo sexto ~
(Em defesa da minha sanidade, eu acabei de assistir A Origem, e todos os pensamentos que o meu pai brincava comigo vieram a tona... ''E se a gente for o sonho de uma pessoa que nunca existiu?'')
Talvez as coisas sejam mais simples do que eu imagino, como num sonho. Só que dessa vez eu não consigo acordar. E mesmo se acordasse, não sei se conseguiria lidar com a realidade por trás do sonho.
Gostaria que a realidade fosse melhor que o sonho, mas não vejo possibilidade disso acontecer. Afinal, por que eu precisaria de um refúgio imaginário pior do que a realidade cruel? E, se mesmo no sonho não sei o que significo, como poderia significar algo fora dele? Ainda procuro o ponto onde o meu sonho encontrará a realidade, e espero que lá eu encontre algum sentido para isso. Talvez tudo o que eu precise seja menos complexo do que imagino... Apenas um estalo, apenas uma abertura de olhos... E de mente.
Mas como abrir a mente para algo não palpável? Seria como se jogar de um penhasco, sem, de fato, ver o final. Cairia até onde? E quando chegasse no final, o que encontraria? Não posso acreditar que tudo se resumiria a uma dura morte, num subconsciente esquecido pelo tempo. Não poderei controlar a minha mente, mas talvez eu possa fugir dela. Não sei exatamente onde isso iria me levar, nem se eu gostarei do que posso chegar a ver, mas a realidade - onde as pessoas não controlam o mundo, uma a uma - deve ser melhor do que ao mundo que somente eu controlo.
Controlo e me perturbo tentando descobrir o que criei. Mas será possível meu consciente resolver o labirinto do meu subconsciente? Não sei por quais caminhos preciso correr. Não sei quais lugares preciso lembrar. Será algum real?
Meu medo é descobrir estar vivendo um looping infinito, onde nada é realmente verdadeiro, e não existe caminho de ida nem volta. Poderia eu, agora de olhos abertos para a verdade, escolher ficar? Pelo menos aqui eu sei não estar sozinha, mesmo que seja rodeada apenas de fragmentos da minha mente. Talvez tenha construido tudo isso para fugir de algo... Algo como a solidão, ou até mesmo o medo da verdade.
Ficar aqui seria loucura? Afinal, por mais que exista a possibilidade de que seja tudo minha própria criação, eu nunca conhecerei por inteiro o meu subconsciente. Mas seria eu capaz de criar algo que até para mim se tornou detestável? Seria o meu medo tão forte assim?
Vou acreditar nisso ao meu redor como realidade, parece menos tortuoso do que tentar acordar. E acordar para que? Essa é a realidade... ou pelo menos é algo que eu, agora, me forço a acreditar. Esta é a realidade, esta é a realidade, esta é a realidade, esta é a realidade, esta é a realidade... Precisa ser.
''What if everything around you Isn't quite as it seems?
What if all the world you think you know Is an elaborate dream?
And if you look at your reflection Is it all you want it to be?
What if you could look right through the cracks? Would you find yourself afraid to see?''
(Nine Inch Nails - Right Where It Belong)
Será que eu gosto de tudo isso porque existe, ou tudo isso existe porque eu gosto?
Talvez as coisas sejam mais simples do que eu imagino, como num sonho. Só que dessa vez eu não consigo acordar. E mesmo se acordasse, não sei se conseguiria lidar com a realidade por trás do sonho.
Gostaria que a realidade fosse melhor que o sonho, mas não vejo possibilidade disso acontecer. Afinal, por que eu precisaria de um refúgio imaginário pior do que a realidade cruel? E, se mesmo no sonho não sei o que significo, como poderia significar algo fora dele? Ainda procuro o ponto onde o meu sonho encontrará a realidade, e espero que lá eu encontre algum sentido para isso. Talvez tudo o que eu precise seja menos complexo do que imagino... Apenas um estalo, apenas uma abertura de olhos... E de mente.
Mas como abrir a mente para algo não palpável? Seria como se jogar de um penhasco, sem, de fato, ver o final. Cairia até onde? E quando chegasse no final, o que encontraria? Não posso acreditar que tudo se resumiria a uma dura morte, num subconsciente esquecido pelo tempo. Não poderei controlar a minha mente, mas talvez eu possa fugir dela. Não sei exatamente onde isso iria me levar, nem se eu gostarei do que posso chegar a ver, mas a realidade - onde as pessoas não controlam o mundo, uma a uma - deve ser melhor do que ao mundo que somente eu controlo.
Controlo e me perturbo tentando descobrir o que criei. Mas será possível meu consciente resolver o labirinto do meu subconsciente? Não sei por quais caminhos preciso correr. Não sei quais lugares preciso lembrar. Será algum real?
Meu medo é descobrir estar vivendo um looping infinito, onde nada é realmente verdadeiro, e não existe caminho de ida nem volta. Poderia eu, agora de olhos abertos para a verdade, escolher ficar? Pelo menos aqui eu sei não estar sozinha, mesmo que seja rodeada apenas de fragmentos da minha mente. Talvez tenha construido tudo isso para fugir de algo... Algo como a solidão, ou até mesmo o medo da verdade.
Ficar aqui seria loucura? Afinal, por mais que exista a possibilidade de que seja tudo minha própria criação, eu nunca conhecerei por inteiro o meu subconsciente. Mas seria eu capaz de criar algo que até para mim se tornou detestável? Seria o meu medo tão forte assim?
Vou acreditar nisso ao meu redor como realidade, parece menos tortuoso do que tentar acordar. E acordar para que? Essa é a realidade... ou pelo menos é algo que eu, agora, me forço a acreditar. Esta é a realidade, esta é a realidade, esta é a realidade, esta é a realidade, esta é a realidade... Precisa ser.
''What if everything around you Isn't quite as it seems?
What if all the world you think you know Is an elaborate dream?
And if you look at your reflection Is it all you want it to be?
What if you could look right through the cracks? Would you find yourself afraid to see?''
(Nine Inch Nails - Right Where It Belong)
domingo, 8 de agosto de 2010
sexagésimo quinto ~
Procuro minha inspiração, alguém sabe em que canto a deixei? Já procurei atrás da porta e debaixo da cama, e não acho em lugar algum.
Talvez tenha esquecido a entre um sentimento calado e outro. Talvez ela tenha ficado acanhada depois de tantos sentimentos que engoli rapidamente para que não saíssem de mim. Será que não voltará mais? Será que a assustei para longe daqui?
Como poderei, então, vomitar meus sentimentos mastigados? Tenho necessidade que saiam de mim, são pesados, mas não sei como dizer em palavras algo que nem na minha cabeça posso formular. Uma lágrima e um sorriso não poderão dizer tudo o que eu sinto.
Procuro minha inspiração em algum canto. Vou sair por ai, atrás de toda flor e cor que possa ter roubado-a de mim. Dou minhas dores e meus amores em troca.
Mas e se eu não achar, como posso tirar tais sentimentos de mim?
Grito, danço, esperneio. Posso correr de um lugar a outro, mas estes sentimentos continuarão a me assombrar se não tirá-los daqui.
Por isso peço candidamente, se você achá-la, traga de volta. Talvez ela esteja em um beijo, um choro ou um riso, mas sei que está por ai.
Se ela se perdeu na ingenuidade de um sentimento bonito, sei que voltará a mim com belas histórias a contar, e eu me sentarei e ficarei maravilhada com todas as coisas que ela tem a dizer.
Onde estará? Quanto mais a procuro, mais perdida me sinto. Talvez, se eu tentasse não procurá-la com tanto fervor ela viesse a mim. Singelamente, ela viria a mim e faria eu me sentir bem novamente. Delicada, ela me faria chorar e sorrir. Assim, da maneira mais pura e simples, ela faria eu me sentir bem novamente. Prefiro ter sentimentos extremos a não sentir nada.
Quando ela voltar, sinto que as coisas voltarão a fazer sentido. Talvez assim eu possa decifrar-me e parar de omitir sensações - quem saiba até pare de fingir sentir o que não sinto.
(por algum motivo muito aleatório, eu sou totalmente apaixonada por essa foto. Ainda me pergunto no que ela estaria pensando...)
Talvez tenha esquecido a entre um sentimento calado e outro. Talvez ela tenha ficado acanhada depois de tantos sentimentos que engoli rapidamente para que não saíssem de mim. Será que não voltará mais? Será que a assustei para longe daqui?
Como poderei, então, vomitar meus sentimentos mastigados? Tenho necessidade que saiam de mim, são pesados, mas não sei como dizer em palavras algo que nem na minha cabeça posso formular. Uma lágrima e um sorriso não poderão dizer tudo o que eu sinto.
Procuro minha inspiração em algum canto. Vou sair por ai, atrás de toda flor e cor que possa ter roubado-a de mim. Dou minhas dores e meus amores em troca.
Mas e se eu não achar, como posso tirar tais sentimentos de mim?
Grito, danço, esperneio. Posso correr de um lugar a outro, mas estes sentimentos continuarão a me assombrar se não tirá-los daqui.
Por isso peço candidamente, se você achá-la, traga de volta. Talvez ela esteja em um beijo, um choro ou um riso, mas sei que está por ai.
Se ela se perdeu na ingenuidade de um sentimento bonito, sei que voltará a mim com belas histórias a contar, e eu me sentarei e ficarei maravilhada com todas as coisas que ela tem a dizer.
Onde estará? Quanto mais a procuro, mais perdida me sinto. Talvez, se eu tentasse não procurá-la com tanto fervor ela viesse a mim. Singelamente, ela viria a mim e faria eu me sentir bem novamente. Delicada, ela me faria chorar e sorrir. Assim, da maneira mais pura e simples, ela faria eu me sentir bem novamente. Prefiro ter sentimentos extremos a não sentir nada.
Quando ela voltar, sinto que as coisas voltarão a fazer sentido. Talvez assim eu possa decifrar-me e parar de omitir sensações - quem saiba até pare de fingir sentir o que não sinto.
(por algum motivo muito aleatório, eu sou totalmente apaixonada por essa foto. Ainda me pergunto no que ela estaria pensando...)
quarta-feira, 14 de julho de 2010
sexagésimo quarto ~
É, eu sei, estou num dia de reminiscências mesmo, mas parece que tenho necessidade de lembrar de certas coisas que estão apagadas na minha memória.
Dessa vez lembrei do sopão do centro da cidade.
Minha mãe trabalha em uma empresa que, de vez em quando, fazia uma noite de sopão para os pobres. Em uma dessas vezes, eu e minha irmã fomos para ajudar.
Era bem simples e organizado, bem coisa de filme mesmo. Panela enorme lotada de sopa, fila de moradores de rua esperando a sua vez, pratinho de plástico fundo. Se eu não me engano, eu ficava dando o pedaço de pão. Bom, seja como for, eu estava passando por entre um grupo de moradores de rua se deliciando na sopa quente na noite fria, quando um homem acabou derrubando o prato, e assim toda a comida foi parar no chão.
Quando eu cheguei para ajudá-lo, ele já estava juntando toda a sopa no chão e tentando, numa tentativa falha, colocá-la de volta no prato, para comer novamente. Lembro-me bem do desespero que ele ficou, e na angústia que isso me deu.
''Não, moço, não pega do chão! Eu vou pegar outro prato cheio para você!''
Mas ele continuava! AAAAAAHH, que sensação horrível.
No final eu simplesmente peguei um prato novo com mais pão para ele.
Lembro da minha vontade de chorar, e de abraçá-lo forte...
Lembro-me de todas as sensações, mas não consigo recordar o rosto dele.
Dessa vez lembrei do sopão do centro da cidade.
Minha mãe trabalha em uma empresa que, de vez em quando, fazia uma noite de sopão para os pobres. Em uma dessas vezes, eu e minha irmã fomos para ajudar.
Era bem simples e organizado, bem coisa de filme mesmo. Panela enorme lotada de sopa, fila de moradores de rua esperando a sua vez, pratinho de plástico fundo. Se eu não me engano, eu ficava dando o pedaço de pão. Bom, seja como for, eu estava passando por entre um grupo de moradores de rua se deliciando na sopa quente na noite fria, quando um homem acabou derrubando o prato, e assim toda a comida foi parar no chão.
Quando eu cheguei para ajudá-lo, ele já estava juntando toda a sopa no chão e tentando, numa tentativa falha, colocá-la de volta no prato, para comer novamente. Lembro-me bem do desespero que ele ficou, e na angústia que isso me deu.
''Não, moço, não pega do chão! Eu vou pegar outro prato cheio para você!''
Mas ele continuava! AAAAAAHH, que sensação horrível.
No final eu simplesmente peguei um prato novo com mais pão para ele.
Lembro da minha vontade de chorar, e de abraçá-lo forte...
Lembro-me de todas as sensações, mas não consigo recordar o rosto dele.
sexagésimo terceiro ~
No desespero da falta de inspiração, me pego remoendo textos antigos... E hoje procurei no meu blog ultra secreto e escroto. Achei um post que me lembrou um dia feliz e eu resolvi compartilhar isso aqui.
'Um dia desses eu fui em uma palestra sobre Fotografia Digital em uma livraria. O lugar não estava lotado, mas optei por ficar de pé, atrás do público.
Então, no meio da palestra uma pessoa para do meu lado, e quando eu me viro para ver quem era, deparo-me com uma dos olhares mais inocentes que já vi na vida. Esse olhar pertencia a um garoto que tinha Síndrome de Down. E esse olhar veio com o sorriso mais gostoso que eu já recebi, e talvez o mais sincero também.
Com o tempo, o moço que estava dando a palestra resolveu exemplificar o que estava dizendo na prática, pegou a câmera e apontou para a platéia. Quando vejo, ela estava apontada para o fundo da platéia onde estavam eu e esse garoto.
E é quando vejo ele fazendo uma pose, todo maroto, tão lindo, para a câmera.
Ele tinha uma tatuagem, de henna é claro, que apontou para a câmera, mostrando-a com todo o orgulho do mundo. Estava tão feliz, continuava sorrindo de um jeito maravilhoso.
Era como se nada pudesse o machucar, e tudo fosse alegria.
E estar perto dele... Aquilo me gerava alegria.
Mas ai ele foi embora, olhou, sorriu, disse tchau.
No começo eu fiquei feliz, retribui a gentileza e o desejei tudo de bom.
Mas depois pensei que nunca mais o veria;
e nunca mais o vi mesmo.''
Enquanto eu lia o post, as lembranças ficaram claras na minha mente, mas eu já tinha me esquecido de tudo isso. Fico feliz que pude me lembrar daquele sorriso encantador que continua me trazendo alegria.
'Um dia desses eu fui em uma palestra sobre Fotografia Digital em uma livraria. O lugar não estava lotado, mas optei por ficar de pé, atrás do público.
Então, no meio da palestra uma pessoa para do meu lado, e quando eu me viro para ver quem era, deparo-me com uma dos olhares mais inocentes que já vi na vida. Esse olhar pertencia a um garoto que tinha Síndrome de Down. E esse olhar veio com o sorriso mais gostoso que eu já recebi, e talvez o mais sincero também.
Com o tempo, o moço que estava dando a palestra resolveu exemplificar o que estava dizendo na prática, pegou a câmera e apontou para a platéia. Quando vejo, ela estava apontada para o fundo da platéia onde estavam eu e esse garoto.
E é quando vejo ele fazendo uma pose, todo maroto, tão lindo, para a câmera.
Ele tinha uma tatuagem, de henna é claro, que apontou para a câmera, mostrando-a com todo o orgulho do mundo. Estava tão feliz, continuava sorrindo de um jeito maravilhoso.
Era como se nada pudesse o machucar, e tudo fosse alegria.
E estar perto dele... Aquilo me gerava alegria.
Mas ai ele foi embora, olhou, sorriu, disse tchau.
No começo eu fiquei feliz, retribui a gentileza e o desejei tudo de bom.
Mas depois pensei que nunca mais o veria;
e nunca mais o vi mesmo.''
Enquanto eu lia o post, as lembranças ficaram claras na minha mente, mas eu já tinha me esquecido de tudo isso. Fico feliz que pude me lembrar daquele sorriso encantador que continua me trazendo alegria.
quinta-feira, 4 de março de 2010
sexagésimo segundo ~
[And the worms ate into his brain...]
Ele estava completamente sozinho em sua sala, esperando a noite que vinha para afugentá-lo. As badaladas do enorme relógio batiam de acordo com o coração do homem. Sua respiração estava ofegante.
Esperava sentando em sua velha cadeira, quase caindo aos pedaços. Esperava companhia, que de fato teria. Procurava nos cantos da casa os vermes que logo começavam a chegar... Um a um, grotescamente, todos chegaram.
Pouco a pouco eles subiam pela carne fresca do homem, carne na temperatura ideal para um banquete. Quem poderia saber se era o fim? Somente a lua era sua testemunha, e nem mesmo ela não apareceu para iluminar aquela noite.
Ele permaneceu imóvel na cadeira enquanto os vermes penetravam sua pele, permaneceu forte, com olhar intacto e vazio. Nem mesmo um grunhido foi solto naquela noite.
Ele esperava a hora do jantar... Até descobrir que era ele.
''- until there was nothing left
- and he was totally alone.
- sitting and waiting for dinner time.
- But the dinner was... him.''
(conversa de msn, criada por causa do meu nick)
(dedicado ao grande João Góes, me ajuda nas inspirações mais malucas!)
Ele estava completamente sozinho em sua sala, esperando a noite que vinha para afugentá-lo. As badaladas do enorme relógio batiam de acordo com o coração do homem. Sua respiração estava ofegante.
Esperava sentando em sua velha cadeira, quase caindo aos pedaços. Esperava companhia, que de fato teria. Procurava nos cantos da casa os vermes que logo começavam a chegar... Um a um, grotescamente, todos chegaram.
Pouco a pouco eles subiam pela carne fresca do homem, carne na temperatura ideal para um banquete. Quem poderia saber se era o fim? Somente a lua era sua testemunha, e nem mesmo ela não apareceu para iluminar aquela noite.
Ele permaneceu imóvel na cadeira enquanto os vermes penetravam sua pele, permaneceu forte, com olhar intacto e vazio. Nem mesmo um grunhido foi solto naquela noite.
Ele esperava a hora do jantar... Até descobrir que era ele.
''- until there was nothing left
- and he was totally alone.
- sitting and waiting for dinner time.
- But the dinner was... him.''
(conversa de msn, criada por causa do meu nick)
(dedicado ao grande João Góes, me ajuda nas inspirações mais malucas!)
segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010
sexagésimo primeiro ~
Imagine que você está perdido... Não perdido no meio da sua cidade num domingo de sol, procurando uma rua e outra. Você está perdido em um lugar que não tem idéia de onde seja, e por mais que ande até cansar teus pés, você continuará perdido.
Em um certo momento você se desespera, corre um pouco, procura por ajuda. Será que não existem outras pessoas tão perdidas quanto você naquele lugar? Na verdade não só está perdido, está sozinho também naquele submundo incrivelmente misterioso.
Agora você começa a se acostumar com a idéia de continuar perdido por mais um tempo, afinal, depois de algumas horas, aquele lugar não parece tão ruim assim. Você começa a olhar as coisas de uma forma mais simples e objetiva. Você se senta no chão e observa. Agora com mais calma é possível ver que existe vida por lá, existe o vento e até mesmo flores. Quanta beleza o teu desespero não deixou que você enxergasse?
As cores passam por ti como um devaneio caleidoscópico, os aromas de atingem com tal violência que você não sabe mais o que é real. Sons... muitos sons distintos que se entrelaçam. O que seria tudo isso?
Você não tenta mais dissimular a verdade, e isso te traz um real sossegado, algo que você não conhecia antes.
Imagine que você está perdido... Agora você vê a realidade? Como ela é?
(''você consegue escrever algo que não me dê angústia? Esse texto me deixa angustiada, eu tô perdida num lugar e não posso sair!''
''aaaahh, não era para dar angústia! era para ser feliz!)
domingo, 21 de fevereiro de 2010
sexagésimo ~
Tudo começou com um beijo terno entre sorrisos, e acabaria com a mesma ternura entre lágrimas.
As mãos se encontravam lentamente, no compasso meloso da música. Os olhares se entrelaçavam, e as bocas completavam-se, tinham necessidade uma da outra. Uma mão descia, contornando a silhueta feminina que dançava no ritmo, a outra mão amaciava os sedosos cabelos loiros da moça.
Os corpos se aproximavam, se encaixavam, tinham o complemento perfeito um do outro. Duas silhuetas se tornando uma, um único corpo. A última noite, e a última dança que dançariam juntos, mal sabia ela. Ele tirou vagarosamente o vestido de seda da moça e ela fez o mesmo com a farda nova do rapaz, e eles se amaram como nunca antes. Beijaram-se ternamente com amor. Se amaram noite adentro.
Com o passar das horas, o tempo se esgotava, era necessário dizer a verdade, dizer adeus. Mas como falar algo tão terrível a ponto de despedaçar o coração da pessoa amada?... Era preciso.
Logo nas primeiras palavras proferidas, a moça percebeu na amargura da voz masculina que esse era o fim. E logo as primeiras lágrimas vieram, e chamaram as outras, que desataram num choro aparentemente infinito. A figura masculina tentava amparar as lágrimas e a tristeza, mas como poderia fazer isso, se pode dentro ele estava tão triste quanto?
As horas passavam, e a solidão adentrava o lugar. O homem levantou-se e começou a colocar sua farda novamente. A guerra o esperava, e talvez o teria para sempre. Poderia a moça aguentar isso? A dor e a perda da incerteza da volta?
Entre lágrimas eles se beijaram, e nessas mesmas lágrimas ele se foi. Deixando-a na ternura do amor incerto.
Mas ela o esperou... em vão.
(Baseado em várias coisas, entre elas o clipe Thinking of You da Katy Perry, e a música Food is Still Hot da banda Karen O and the Kids)
(Qualquer dia eu escrevo algo feliz que não tenha a ver com perdas e solidão, está começando a ficar irritante como eu repito esse assunto)
As mãos se encontravam lentamente, no compasso meloso da música. Os olhares se entrelaçavam, e as bocas completavam-se, tinham necessidade uma da outra. Uma mão descia, contornando a silhueta feminina que dançava no ritmo, a outra mão amaciava os sedosos cabelos loiros da moça.
Os corpos se aproximavam, se encaixavam, tinham o complemento perfeito um do outro. Duas silhuetas se tornando uma, um único corpo. A última noite, e a última dança que dançariam juntos, mal sabia ela. Ele tirou vagarosamente o vestido de seda da moça e ela fez o mesmo com a farda nova do rapaz, e eles se amaram como nunca antes. Beijaram-se ternamente com amor. Se amaram noite adentro.
Com o passar das horas, o tempo se esgotava, era necessário dizer a verdade, dizer adeus. Mas como falar algo tão terrível a ponto de despedaçar o coração da pessoa amada?... Era preciso.
Logo nas primeiras palavras proferidas, a moça percebeu na amargura da voz masculina que esse era o fim. E logo as primeiras lágrimas vieram, e chamaram as outras, que desataram num choro aparentemente infinito. A figura masculina tentava amparar as lágrimas e a tristeza, mas como poderia fazer isso, se pode dentro ele estava tão triste quanto?
As horas passavam, e a solidão adentrava o lugar. O homem levantou-se e começou a colocar sua farda novamente. A guerra o esperava, e talvez o teria para sempre. Poderia a moça aguentar isso? A dor e a perda da incerteza da volta?
Entre lágrimas eles se beijaram, e nessas mesmas lágrimas ele se foi. Deixando-a na ternura do amor incerto.
Mas ela o esperou... em vão.
(Baseado em várias coisas, entre elas o clipe Thinking of You da Katy Perry, e a música Food is Still Hot da banda Karen O and the Kids)
(Qualquer dia eu escrevo algo feliz que não tenha a ver com perdas e solidão, está começando a ficar irritante como eu repito esse assunto)
sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010
quinquagésimo nono ~
E lá estava ela, sozinha na varanda vendo o sol nascer.
Tomava leite quente em sua caneca a verde com joaninhas em volta, sua preferida. Observava as luzes dos prédios ao lado se acendendo e apagando, quase que em uma coreografia combinada.
Poucas pessoas passavam na rua, às vezes algum jovem voltando de uma festa, um casal apaixonado que resolveu ver o sol nascer na praia, uma família desesperada correndo para não pegar trânsito na volta para casa. Nada fora do comum para um dia igualmente comum.
E agora o sol começava a aparecer, primeiro os raios tímidos no horizonte, depois ele próprio, forte e brilhante num lindo nascer do sol laranja. Juntos com o sol, o sorriso da menina nascia também. Aquele sorriso que estava escondido por tanto tempo.
Aquele sorriso dizia mais do que uma simples alegria matutina. Significava redenção, perdão... Significava esperança que agora ela podia ter. Nunca tinha se dado o prazer de ter esperanças, e agora sonhava. Sonhava com ela mesma, e com o que poderia se tornar. E aqueles sonhos eram tão bons que coravam sua face.
Naquele momento ela não se importava com quem fora ou quem seria. O que importava era quem era no presente, naquela varanda, naquela manhã. E mesmo que se importasse com o futuro, como poderia pensar em algo tão não palpável?
Os tímidos raios solares deram espaço para o Sol propriamente dito, este que refletia nos olhos cor de mel da menina. Olhos que quase se fechavam para dar lugar ao sorriso mais largo que tinha.
Estava feliz novamente.
quinquagésimo oitavo ~
Ela sempre se achou certa das coisas, certa do que queria, certa do que faria, e agora estava certa que se encontrava sozinha naquele quarto de hotel.
No outro lado da cama ainda tinha o calor recém deixado, e o primeiro corpo delicado e feminino não ousava invadir aquele espaço. Ela estava ocupada fingindo não chorar aquelas lágrimas furtivas. Ao longe o rádio ainda tocava uma canção devagar para os antigos amantes, um tango argentino que trazia saudade.
Ela cheirava o som e ouvia a cor do passado, do seu passado tão distante porém tão palpável.
Passava seus dedos lentamente pela sua própria silhueta, lentamente... delicadamente. Era tão frágil, tão inocente, e agora tão sozinha...
Porém pela janela entrava uma brisa fresca... Gélida.
E a escuridão tomou conta de cada canto do quarto, e o silêncio ocupou o espaço que antes o outro corpo ocupava. Seria sempre assim? Aquela solidão não passaria?
Não, ela se recusava a acreditar nisso, não poderia ser assim para sempre. Sua mãe sempre dizia que o tempo curava todas as feridas, e agora ela necessitava que isso fosse verdade. A lembrança do toque, do cheiro e do gosto do antigo enamorado precisava acabar, nada seria igual se continuasse normal. Um tanto quanto irônico, não?
Desdobrava seus sentimentos, precisava se sentir completa de novo, precisava que o corpo dele precisasse do seu. Chamava cegamente por alguém, mas ninguém viria.
Tudo o que poderia fazer era se acostumar com a solidão derradeira que aparecia para quebrar seu coração. E assim, com o tempo, a presença dele iria sumir - ou pelo menos ela sumiria com ele.
No outro lado da cama ainda tinha o calor recém deixado, e o primeiro corpo delicado e feminino não ousava invadir aquele espaço. Ela estava ocupada fingindo não chorar aquelas lágrimas furtivas. Ao longe o rádio ainda tocava uma canção devagar para os antigos amantes, um tango argentino que trazia saudade.
Ela cheirava o som e ouvia a cor do passado, do seu passado tão distante porém tão palpável.
Passava seus dedos lentamente pela sua própria silhueta, lentamente... delicadamente. Era tão frágil, tão inocente, e agora tão sozinha...
Porém pela janela entrava uma brisa fresca... Gélida.
E a escuridão tomou conta de cada canto do quarto, e o silêncio ocupou o espaço que antes o outro corpo ocupava. Seria sempre assim? Aquela solidão não passaria?
Não, ela se recusava a acreditar nisso, não poderia ser assim para sempre. Sua mãe sempre dizia que o tempo curava todas as feridas, e agora ela necessitava que isso fosse verdade. A lembrança do toque, do cheiro e do gosto do antigo enamorado precisava acabar, nada seria igual se continuasse normal. Um tanto quanto irônico, não?
Desdobrava seus sentimentos, precisava se sentir completa de novo, precisava que o corpo dele precisasse do seu. Chamava cegamente por alguém, mas ninguém viria.
Tudo o que poderia fazer era se acostumar com a solidão derradeira que aparecia para quebrar seu coração. E assim, com o tempo, a presença dele iria sumir - ou pelo menos ela sumiria com ele.
terça-feira, 12 de janeiro de 2010
Querida Camila,
Vim aqui lhe pedir somente algumas pequenas coisas, sei que você pode fazer por mim. Primeiro de tudo, acalme-se, você ainda tem muita coisa para viver, e com apenas 16 anos não pode se achar com razão de tudo na vida. Você já errou muito, e é bom que continue errando, ou nunca vai aprender as cagadas que a vida faz.
Segundo, por favor, entenda-se comigo. Estou aqui apenas por ti, e você parece não entender o meu lado. Você tem pressa demais de crescer, e com isso atropela muita coisa. O tempo é sempre único, tudo o que você pode fazer é continuar vivendo. Peço também, que você aprenda consigo mesma, apesar de jovem, você já aprendeu muito e pode continuar. Sei que é forte para isso.
Não queira colocar a carroça na frente dos bois, nem tudo é fácil assim.
Aprenda também a gostar de ti e demonstrar gostar dos outros em volta. Um pouco de amor nunca fez mal. E afinal, se você não se gosta, como pode pedir para que os outros o façam? Não cobre isso deles.
Não cobre também tanto dos outros, você sabe que também odeia quando cobram o que não tem direito de ti.
És menina e jovem, tem muito o que viver e ainda vai tomar muitas porradas. Não se odeie por isso, por favor. Seja amável com os outros, não a ponto dos outros poderem passar a perna em ti. Não tenha medo, não jogue tanto na defensiva, você é melhor que isso. Sem medo, pode ser capaz de coisas maravilhosas, pode se sentir melhor.
Não se maltrate tanto pelos outros. Você não está sozinha, eu estou aqui. Não chores mais.
Continue a mesma, mas não para sempre. Inove-se, eu sei como você odeia a mesmice. Eu acredito em ti, e espero que você também possa acreditar.
Espero que lembre-se de mim quando precisar de alguém, afinal, eu estou em ti.
Atenciosamente,
M.
Vim aqui lhe pedir somente algumas pequenas coisas, sei que você pode fazer por mim. Primeiro de tudo, acalme-se, você ainda tem muita coisa para viver, e com apenas 16 anos não pode se achar com razão de tudo na vida. Você já errou muito, e é bom que continue errando, ou nunca vai aprender as cagadas que a vida faz.
Segundo, por favor, entenda-se comigo. Estou aqui apenas por ti, e você parece não entender o meu lado. Você tem pressa demais de crescer, e com isso atropela muita coisa. O tempo é sempre único, tudo o que você pode fazer é continuar vivendo. Peço também, que você aprenda consigo mesma, apesar de jovem, você já aprendeu muito e pode continuar. Sei que é forte para isso.
Não queira colocar a carroça na frente dos bois, nem tudo é fácil assim.
Aprenda também a gostar de ti e demonstrar gostar dos outros em volta. Um pouco de amor nunca fez mal. E afinal, se você não se gosta, como pode pedir para que os outros o façam? Não cobre isso deles.
Não cobre também tanto dos outros, você sabe que também odeia quando cobram o que não tem direito de ti.
És menina e jovem, tem muito o que viver e ainda vai tomar muitas porradas. Não se odeie por isso, por favor. Seja amável com os outros, não a ponto dos outros poderem passar a perna em ti. Não tenha medo, não jogue tanto na defensiva, você é melhor que isso. Sem medo, pode ser capaz de coisas maravilhosas, pode se sentir melhor.
Não se maltrate tanto pelos outros. Você não está sozinha, eu estou aqui. Não chores mais.
Continue a mesma, mas não para sempre. Inove-se, eu sei como você odeia a mesmice. Eu acredito em ti, e espero que você também possa acreditar.
Espero que lembre-se de mim quando precisar de alguém, afinal, eu estou em ti.
Atenciosamente,
M.
sábado, 9 de janeiro de 2010
quinquagésimo quarto ~
Toda noite preparava o prato, sentava-me a mesa e esperava. No começo ele vinha com um sorriso, beijava-me e contava sobre o dia, perguntava do meu, brincava comigo e depois lavávamos a louça dançando ao som dos Beatles.
Alguns meses depois ele demorava a chegar, não sorria mais, não me contava das coisas, jogava a comida fora e ia deitar-se. Mal olhava em meus olhos, mal dirigia a palavra a mim, simplesmente olhava através de tudo. Nunca consegui entender o que aconteceu, será que tinha feito algo? Tinha eu o ofendido? O maltratei? O que tinha mudado?
No final, algumas noites ele simplesmente não chegava, noites a fio que esperei acordada para nada, chegava bêbado de madrugada, dizia coisas horríveis, fedia a álcool. Mudara, não era mais o homem que tinha me esperado no altar, não era o homem que me levava flores no trabalho. Não era ninguém para mim, e isso era recíproco.
A primeira vez que ele tocou em mim eu não acreditei. Dizia que o roxo no meu braço eu mesma tinha causado, tentava esconder dos outros. Pensei que nunca mais ia se repetir. No entanto as noites foram ficando iguais, e tendiam a piorar. Ele não descansava até ver lágrimas em meus olhos, e o sangue escorrendo pelo meu corpo.
Noites e noites a história era a mesma, mal tinha sarado um machucado, e ele não tardava em fazer outro. Não podia mais aguentar.
Uma noite, naquela noite, eu planejei tudo. Se ele tocasse em mim, eu tocaria nele da minha maneira. Afiei a faca, escondi embaixo da minha blusa e o esperei a noite toda. Ele não veio.
Quando notei, achei loucura toda a história de machucar meu próprio marido, não podia fazer isso. Guardei a faca na primeira gaveta na cozinha, e fui deitar-me, agradecendo por ter uma noite de sossego, podendo dormir sem precisar fazer curativo antes. Pensei que talvez ele tivesse desistido e ido embora. Um abandono é melhor que outro espancamento.
Na noite seguinte, no entanto, ele voltou mais violento do que nunca. Puxou-me pelo cabelo, me disse coisas horríveis, xingava-me de todos os nomes existentes. Aquela foi a única noite que eu temi por minha vida, jurava que seria minha última noite, mas não poderia ser assim. Não morreria nas mãos do homem da minha vida. No primeiro descuido, corri até a cozinha, peguei a faca e enfiei o mais forte que pude em suas costas.
Ele era forte, precisei de mais do que algumas facadas para derrubá-lo. Quando voltei a mim mesma, olhando o sangue em minhas mãos e o estrago que tinha feito em meu marido, fiquei assustada. Como eu poderia ter sido capaz de algo tão monstruoso? Corri até o banheiro para lavar-me, tirar o sangue de cima de mim. Logo após, liguei para a polícia.
E agora vocês do júri se encontram aqui, tentando dizer se fui culpada ou inocente. Tentando defender-me, eu me tornei o monstro, e agora já não posso mais me reconhecer. Nunca perdoar ou condenar-me-ei.
Entretanto digo a vocês que fiz o que fiz apenas por minha sobrevivência. Não nego isso. Peço apenas que vocês pensem, entre a vida de vocês e de um monstro qualquer, qual vida vocês escolheriam? Vocês matariam seu ideais para permanecerem vivos? Tornar-se-iam os monstros?
Alguns meses depois ele demorava a chegar, não sorria mais, não me contava das coisas, jogava a comida fora e ia deitar-se. Mal olhava em meus olhos, mal dirigia a palavra a mim, simplesmente olhava através de tudo. Nunca consegui entender o que aconteceu, será que tinha feito algo? Tinha eu o ofendido? O maltratei? O que tinha mudado?
No final, algumas noites ele simplesmente não chegava, noites a fio que esperei acordada para nada, chegava bêbado de madrugada, dizia coisas horríveis, fedia a álcool. Mudara, não era mais o homem que tinha me esperado no altar, não era o homem que me levava flores no trabalho. Não era ninguém para mim, e isso era recíproco.
A primeira vez que ele tocou em mim eu não acreditei. Dizia que o roxo no meu braço eu mesma tinha causado, tentava esconder dos outros. Pensei que nunca mais ia se repetir. No entanto as noites foram ficando iguais, e tendiam a piorar. Ele não descansava até ver lágrimas em meus olhos, e o sangue escorrendo pelo meu corpo.
Noites e noites a história era a mesma, mal tinha sarado um machucado, e ele não tardava em fazer outro. Não podia mais aguentar.
Uma noite, naquela noite, eu planejei tudo. Se ele tocasse em mim, eu tocaria nele da minha maneira. Afiei a faca, escondi embaixo da minha blusa e o esperei a noite toda. Ele não veio.
Quando notei, achei loucura toda a história de machucar meu próprio marido, não podia fazer isso. Guardei a faca na primeira gaveta na cozinha, e fui deitar-me, agradecendo por ter uma noite de sossego, podendo dormir sem precisar fazer curativo antes. Pensei que talvez ele tivesse desistido e ido embora. Um abandono é melhor que outro espancamento.
Na noite seguinte, no entanto, ele voltou mais violento do que nunca. Puxou-me pelo cabelo, me disse coisas horríveis, xingava-me de todos os nomes existentes. Aquela foi a única noite que eu temi por minha vida, jurava que seria minha última noite, mas não poderia ser assim. Não morreria nas mãos do homem da minha vida. No primeiro descuido, corri até a cozinha, peguei a faca e enfiei o mais forte que pude em suas costas.
Ele era forte, precisei de mais do que algumas facadas para derrubá-lo. Quando voltei a mim mesma, olhando o sangue em minhas mãos e o estrago que tinha feito em meu marido, fiquei assustada. Como eu poderia ter sido capaz de algo tão monstruoso? Corri até o banheiro para lavar-me, tirar o sangue de cima de mim. Logo após, liguei para a polícia.
E agora vocês do júri se encontram aqui, tentando dizer se fui culpada ou inocente. Tentando defender-me, eu me tornei o monstro, e agora já não posso mais me reconhecer. Nunca perdoar ou condenar-me-ei.
Entretanto digo a vocês que fiz o que fiz apenas por minha sobrevivência. Não nego isso. Peço apenas que vocês pensem, entre a vida de vocês e de um monstro qualquer, qual vida vocês escolheriam? Vocês matariam seu ideais para permanecerem vivos? Tornar-se-iam os monstros?
sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
quinquagésimo terceiro ~
http://www.youtube.com/watch?v=7MYu-A1TxXU&feature=channel
Não poderás me entender pois não tens as mesmas asas que se encontram atrás de minhas costas.
Não sentes as coisas a minha maneira, o que é perfeitamente normal, não se acanhe.
Mas será que podes se esforçar um pouco mais, você precisa entender as coisas que não atrevo-me a dizer. Será que assim poderás decidir se fica ou vai?
As palavras entaladas em minha garganta não me permitem voar, seguram minhas asas e pesam em meu corpo. Meus segredos ocultos que ficam somente em mim. Desvenda-me.
Você deveria me ajudar, e agora só ofusca a verdade perante meus olhos. Poderás fazer tudo isso ter sentido? Será que poderia ficar e me ajudar?
Tudo ao redor gira, e você não permanece. Minhas asas continuam intactas, não sabem voar. E qual seria o sentido então de ter asas que não voam? Tudo gira, e dessa vez rápido demais.
Posso acostumar-me a isso, não preciso mais fugir, preciso?
Dê-me a resposta e prometo acreditar. Dê-me a resposta e mude tudo em minha vida.
Faça-me voar, faça-me acreditar em um mundo diferente, paralelo talvez.
Vamos, eu acredito em ti. Acredite em mim também.
Livre, liberto-me de mim. Sente o vento que minhas asas fazem ao bater? Guarde essa sensação, guarde no peito. Dou-lhe um beijo e vou-me embora. Ficarás para me ver partir? Vai esperar? Espera-me. Desvende o segredo em meus olhos, e com um beijo terno diga-me adeus.
Adeus, meu querido.
Não poderás me entender pois não tens as mesmas asas que se encontram atrás de minhas costas.
Não sentes as coisas a minha maneira, o que é perfeitamente normal, não se acanhe.
Mas será que podes se esforçar um pouco mais, você precisa entender as coisas que não atrevo-me a dizer. Será que assim poderás decidir se fica ou vai?
As palavras entaladas em minha garganta não me permitem voar, seguram minhas asas e pesam em meu corpo. Meus segredos ocultos que ficam somente em mim. Desvenda-me.
Você deveria me ajudar, e agora só ofusca a verdade perante meus olhos. Poderás fazer tudo isso ter sentido? Será que poderia ficar e me ajudar?
Tudo ao redor gira, e você não permanece. Minhas asas continuam intactas, não sabem voar. E qual seria o sentido então de ter asas que não voam? Tudo gira, e dessa vez rápido demais.
Posso acostumar-me a isso, não preciso mais fugir, preciso?
Dê-me a resposta e prometo acreditar. Dê-me a resposta e mude tudo em minha vida.
Faça-me voar, faça-me acreditar em um mundo diferente, paralelo talvez.
Vamos, eu acredito em ti. Acredite em mim também.
Livre, liberto-me de mim. Sente o vento que minhas asas fazem ao bater? Guarde essa sensação, guarde no peito. Dou-lhe um beijo e vou-me embora. Ficarás para me ver partir? Vai esperar? Espera-me. Desvende o segredo em meus olhos, e com um beijo terno diga-me adeus.
Adeus, meu querido.
nota ''final'' [Último e recomeçando...]
Escrevo agora em uma postagem automática pois sei que não vou estar aqui no último dia do ano... (Calma, não vou morrer, só vou viajar - Ok, falar sozinha é legal)
~
Época final do ano, todo mundo louco, comprando presentes adoidados, consumismo rolando solto, assim como a falsidade. Não me deseje tudo de bom se você nem se quer gosta de mim.
Cansei dessa baboseira de ''Felicidades, tudo de bom, que Deus ilumine teu caminho''. Pra mim já deu... Não quero felicidades e tudo de bom, quero mudança. Não quero que me desejem todas essas falsas coisas boas, quero que me desejem que eu seja melhor, que eu mude para melhor, que eu possa evoluir.
Ninguém gosta do tédio, por mais que significa que tudo está sobre o teu poder. Bom, pelo menos eu não gosto. Gosto das coisas certas, mas não iguais. Não quero tudo igual sempre, enjoativo demais...
Para o ano que vem tenho várias revoluções em mente, assim como a maior parte das pessoas que eu conheço, porém conhecendo-me bem, sei que elas não vão durar até a metade do ano... Canso do que mudei, cansei de mudar. Seria mais fácil ser boa desde o começo não? Ser o fruto ruim na árvore não é exatamente a melhor coisa do mundo... Mas pelo menos isso significa que eu posso mudar e melhorar e não serei igual. É, talvez ser ruim não seja, necessariamente, ruim.
Sou ruim, sei disso. Gostaria que os outros parassem com os elogios falsos e me desejassem a verdade. Sei que não sou a única que gostaria da minha mudança boa. Pelo menos essa ''revolução'' eu pretendo deixar até o final da vida, mas gostaria de ajuda. Será que alguém pode me ajudar?
O ano novo serve para mudanças assim como serve para o começo de tudo igual, das mesmas coisas... Mas não dessa vez, por favor, não posso me permitir isso novamente.
Não que eu precise de um ano novo para reparar que eu sou um ser humano doido, mas começar as coisas com organização é uma boa também, não?
Talvez eu já não fale nada com nada para vocês, mas, por favor entendam que eu tenho necessidade de mudança agora.
Então desejo a vocês um ótimo ano novo, com várias coisas novas fora da monotonia da igualdade.
Mudem, se reinventem... Sejam o melhor que podem ser! Garanto que todo mundo sai ganhando. E por fim, o sempre clichê... Sejam felizes, torço por isso. Espero que seja recíproco.
Tenham uma boa noite, caros leitores, e até ano que vem! :)
~
Época final do ano, todo mundo louco, comprando presentes adoidados, consumismo rolando solto, assim como a falsidade. Não me deseje tudo de bom se você nem se quer gosta de mim.
Cansei dessa baboseira de ''Felicidades, tudo de bom, que Deus ilumine teu caminho''. Pra mim já deu... Não quero felicidades e tudo de bom, quero mudança. Não quero que me desejem todas essas falsas coisas boas, quero que me desejem que eu seja melhor, que eu mude para melhor, que eu possa evoluir.
Ninguém gosta do tédio, por mais que significa que tudo está sobre o teu poder. Bom, pelo menos eu não gosto. Gosto das coisas certas, mas não iguais. Não quero tudo igual sempre, enjoativo demais...
Para o ano que vem tenho várias revoluções em mente, assim como a maior parte das pessoas que eu conheço, porém conhecendo-me bem, sei que elas não vão durar até a metade do ano... Canso do que mudei, cansei de mudar. Seria mais fácil ser boa desde o começo não? Ser o fruto ruim na árvore não é exatamente a melhor coisa do mundo... Mas pelo menos isso significa que eu posso mudar e melhorar e não serei igual. É, talvez ser ruim não seja, necessariamente, ruim.
Sou ruim, sei disso. Gostaria que os outros parassem com os elogios falsos e me desejassem a verdade. Sei que não sou a única que gostaria da minha mudança boa. Pelo menos essa ''revolução'' eu pretendo deixar até o final da vida, mas gostaria de ajuda. Será que alguém pode me ajudar?
O ano novo serve para mudanças assim como serve para o começo de tudo igual, das mesmas coisas... Mas não dessa vez, por favor, não posso me permitir isso novamente.
Não que eu precise de um ano novo para reparar que eu sou um ser humano doido, mas começar as coisas com organização é uma boa também, não?
Talvez eu já não fale nada com nada para vocês, mas, por favor entendam que eu tenho necessidade de mudança agora.
Então desejo a vocês um ótimo ano novo, com várias coisas novas fora da monotonia da igualdade.
Mudem, se reinventem... Sejam o melhor que podem ser! Garanto que todo mundo sai ganhando. E por fim, o sempre clichê... Sejam felizes, torço por isso. Espero que seja recíproco.
Tenham uma boa noite, caros leitores, e até ano que vem! :)
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