sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

quinquagésimo oitavo ~

Ela sempre se achou certa das coisas, certa do que queria, certa do que faria, e agora estava certa que se encontrava sozinha naquele quarto de hotel.

No outro lado da cama ainda tinha o calor recém deixado, e o primeiro corpo delicado e feminino não ousava invadir aquele espaço. Ela estava ocupada fingindo não chorar aquelas lágrimas furtivas. Ao longe o rádio ainda tocava uma canção devagar para os antigos amantes, um tango argentino que trazia saudade.
Ela cheirava o som e ouvia a cor do passado, do seu passado tão distante porém tão palpável.
Passava seus dedos lentamente pela sua própria silhueta, lentamente... delicadamente. Era tão frágil, tão inocente, e agora tão sozinha...


Dentro do quarto o calor era sufocante; o que dificultava, até mesmo machucava a respiração.
Porém pela janela entrava uma brisa fresca... Gélida.
E a escuridão tomou conta de cada canto do quarto, e o silêncio ocupou o espaço que antes o outro corpo ocupava. Seria sempre assim? Aquela solidão não passaria?
Não, ela se recusava a acreditar nisso, não poderia ser assim para sempre. Sua mãe sempre dizia que o tempo curava todas as feridas, e agora ela necessitava que isso fosse verdade. A lembrança do toque, do cheiro e do gosto do antigo enamorado precisava acabar, nada seria igual se continuasse normal. Um tanto quanto irônico, não?
Desdobrava seus sentimentos, precisava se sentir completa de novo, precisava que o corpo dele precisasse do seu. Chamava cegamente por alguém, mas ninguém viria.

Tudo o que poderia fazer era se acostumar com a solidão derradeira que aparecia para quebrar seu coração. E assim, com o tempo, a presença dele iria sumir - ou pelo menos ela sumiria com ele.

Nenhum comentário: