segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

sexagésimo primeiro ~

Imagine que você está perdido... Não perdido no meio da sua cidade num domingo de sol, procurando uma rua e outra. Você está perdido em um lugar que não tem idéia de onde seja, e por mais que ande até cansar teus pés, você continuará perdido.
Em um certo momento você se desespera, corre um pouco, procura por ajuda. Será que não existem outras pessoas tão perdidas quanto você naquele lugar? Na verdade não só está perdido, está sozinho também naquele submundo incrivelmente misterioso.
Agora você começa a se acostumar com a idéia de continuar perdido por mais um tempo, afinal, depois de algumas horas, aquele lugar não parece tão ruim assim. Você começa a olhar as coisas de uma forma mais simples e objetiva. Você se senta no chão e observa. Agora com mais calma é possível ver que existe vida por lá, existe o vento e até mesmo flores. Quanta beleza o teu desespero não deixou que você enxergasse?
As cores passam por ti como um devaneio caleidoscópico, os aromas de atingem com tal violência que você não sabe mais o que é real. Sons... muitos sons distintos que se entrelaçam. O que seria tudo isso?
Você não tenta mais dissimular a verdade, e isso te traz um real sossegado, algo que você não conhecia antes.

Imagine que você está perdido... Agora você vê a realidade? Como ela é?

(''você consegue escrever algo que não me dê angústia? Esse texto me deixa angustiada, eu tô perdida num lugar e não posso sair!''
''aaaahh, não era para dar angústia! era para ser feliz!)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

sexagésimo ~

Tudo começou com um beijo terno entre sorrisos, e acabaria com a mesma ternura entre lágrimas.


As mãos se encontravam lentamente, no compasso meloso da música. Os olhares se entrelaçavam, e as bocas completavam-se, tinham necessidade uma da outra. Uma mão descia, contornando a silhueta feminina que dançava no ritmo, a outra mão amaciava os sedosos cabelos loiros da moça.
Os corpos se aproximavam, se encaixavam, tinham o complemento perfeito um do outro. Duas silhuetas se tornando uma, um único corpo. A última noite, e a última dança que dançariam juntos, mal sabia ela. Ele tirou vagarosamente o vestido de seda da moça e ela fez o mesmo com a farda nova do rapaz, e eles se amaram como nunca antes. Beijaram-se ternamente com amor. Se amaram noite adentro.
Com o passar das horas, o tempo se esgotava, era necessário dizer a verdade, dizer adeus. Mas como falar algo tão terrível a ponto de despedaçar o coração da pessoa amada?... Era preciso.

Logo nas primeiras palavras proferidas, a moça percebeu na amargura da voz masculina que esse era o fim. E logo as primeiras lágrimas vieram, e chamaram as outras, que desataram num choro aparentemente infinito. A figura masculina tentava amparar as lágrimas e a tristeza, mas como poderia fazer isso, se pode dentro ele estava tão triste quanto?
As horas passavam, e a solidão adentrava o lugar. O homem levantou-se e começou a colocar sua farda novamente. A guerra o esperava, e talvez o teria para sempre. Poderia a moça aguentar isso? A dor e a perda da incerteza da volta?
Entre lágrimas eles se beijaram, e nessas mesmas lágrimas ele se foi. Deixando-a na ternura do amor incerto.


Mas ela o esperou... em vão.


(Baseado em várias coisas, entre elas o clipe Thinking of You da Katy Perry, e a música Food is Still Hot da banda Karen O and the Kids)
(Qualquer dia eu escrevo algo feliz que não tenha a ver com perdas e solidão, está começando a ficar irritante como eu repito esse assunto)

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

quinquagésimo nono ~

E lá estava ela, sozinha na varanda vendo o sol nascer.


Tomava leite quente em sua caneca a verde com joaninhas em volta, sua preferida. Observava as luzes dos prédios ao lado se acendendo e apagando, quase que em uma coreografia combinada.
Poucas pessoas passavam na rua, às vezes algum jovem voltando de uma festa, um casal apaixonado que resolveu ver o sol nascer na praia, uma família desesperada correndo para não pegar trânsito na volta para casa. Nada fora do comum para um dia igualmente comum.
E agora o sol começava a aparecer, primeiro os raios tímidos no horizonte, depois ele próprio, forte e brilhante num lindo nascer do sol laranja. Juntos com o sol, o sorriso da menina nascia também. Aquele sorriso que estava escondido por tanto tempo.
Aquele sorriso dizia mais do que uma simples alegria matutina. Significava redenção, perdão... Significava esperança que agora ela podia ter. Nunca tinha se dado o prazer de ter esperanças, e agora sonhava. Sonhava com ela mesma, e com o que poderia se tornar. E aqueles sonhos eram tão bons que coravam sua face.
Naquele momento ela não se importava com quem fora ou quem seria. O que importava era quem era no presente, naquela varanda, naquela manhã. E mesmo que se importasse com o futuro, como poderia pensar em algo tão não palpável?
Os tímidos raios solares deram espaço para o Sol propriamente dito, este que refletia nos olhos cor de mel da menina. Olhos que quase se fechavam para dar lugar ao sorriso mais largo que tinha.

Estava feliz novamente.

quinquagésimo oitavo ~

Ela sempre se achou certa das coisas, certa do que queria, certa do que faria, e agora estava certa que se encontrava sozinha naquele quarto de hotel.

No outro lado da cama ainda tinha o calor recém deixado, e o primeiro corpo delicado e feminino não ousava invadir aquele espaço. Ela estava ocupada fingindo não chorar aquelas lágrimas furtivas. Ao longe o rádio ainda tocava uma canção devagar para os antigos amantes, um tango argentino que trazia saudade.
Ela cheirava o som e ouvia a cor do passado, do seu passado tão distante porém tão palpável.
Passava seus dedos lentamente pela sua própria silhueta, lentamente... delicadamente. Era tão frágil, tão inocente, e agora tão sozinha...


Dentro do quarto o calor era sufocante; o que dificultava, até mesmo machucava a respiração.
Porém pela janela entrava uma brisa fresca... Gélida.
E a escuridão tomou conta de cada canto do quarto, e o silêncio ocupou o espaço que antes o outro corpo ocupava. Seria sempre assim? Aquela solidão não passaria?
Não, ela se recusava a acreditar nisso, não poderia ser assim para sempre. Sua mãe sempre dizia que o tempo curava todas as feridas, e agora ela necessitava que isso fosse verdade. A lembrança do toque, do cheiro e do gosto do antigo enamorado precisava acabar, nada seria igual se continuasse normal. Um tanto quanto irônico, não?
Desdobrava seus sentimentos, precisava se sentir completa de novo, precisava que o corpo dele precisasse do seu. Chamava cegamente por alguém, mas ninguém viria.

Tudo o que poderia fazer era se acostumar com a solidão derradeira que aparecia para quebrar seu coração. E assim, com o tempo, a presença dele iria sumir - ou pelo menos ela sumiria com ele.