sábado, 27 de setembro de 2008

vigésimo~ [Abril Despedaçado]

O balanço ia para frente e para trás, para frente e para trás.
E do outro lado, os passos o levavam cada vez mais perto do seu destino.


Menino achava que podia voar, e no balanço era o único lugar que tudo virava nada, e nada mais importava.
Tonho dava cada passo com mais receio que o anterior, e dava cada passo com mais tristeza que o anterior.
Menino pensava se veria o irmão de novo.
O irmão pensava quanto tempo ainda tinha para ver quem queria.
Menino sonhava.
Tonho simplesmente fazia o que tinha que fazer.
O Menino contava histórias de sereias e pacus.
Tonho já não sonhava com nada e só tinha um desejo.
O Menino morreu na vida.
Tonho matou a vida.
E nenhum dos dois conheceu a vida além da vida que os rodeava.


(Filme: Abril Despedaçado)
(Foto: O Menino)

2 comentários:

Gam disse...

Que bonitinho =o
E triste, e tal e coisa. Mas bonitinho =o

Clara Júlio disse...

Oi... gostei do seu texto! meio q expressa o q sinto sobre o filme tbem... Nossa, a primeira vez q vi, nem soube o pq de ter ficado tao afetada... tudo bem q o filme é de uma beleza e uma brutalidade incontestaveis, mas ele me tocou de uma forma quase pessoal, intimista msmo. Sabe, aquilo q é tao inerente ao ser humano, a certeza da grandeza da vida, q vai tao alem do cotidiano mediocre, da prisao das tradiçoes, da mentalidade estreita.Pra mim, uma das cenas mais bonitas do filme é aquela em q Tonho senta no balanço do Menino para "voar". A expressao do rosto dele, como quem experimenta o tao humano desejo de liberdade, de beleza,em contraste com aquela paisagem inospita do sertao...=)