sábado, 13 de agosto de 2011

septuagésimo quarto ~

A casa está vazia de novo... Sem seus berros, suas brigas, seu afeto. A casa está vazia e eu nunca me senti assim. Tudo continua no lugar que deveria estar - o sofá nunca saiu da posição-dois-pés-afastado-da-parede, o ventilador continua quebrado e o seu lado na cama continua intocado; quase como se ainda estivesse com a forma do seu corpo.
A luz matinal - lembra-se dela? Amarelada que você tanto gostava - continua refletindo nos cristais que vento que eu tanto insisti para comprar na viagem e que você nunca gostou. Agora essas coisas não parecem tão bonitas sem você... Eu ainda me engano pensando que, talvez, um dia, talvez uma quarta-feira você poderá passar pela porta e dizer o meu nome; você poderá voltar.
Já tentei me mudar; a solidão dentro dessas paredes me sufoca. Mas não ouso sair do lugar que guarda todas as lembranças. Mês passado decidi que ia reformar a casa, mas não tive a coragem necessária para abandonar suas marcas pelos cantos. Ouso dizer que nas noites mais silenciosas eu consigo ouvir sua risada alta (pois nós dois sabemos que você tem uma risada por ocasião) ecoando na sala ainda e tudo isso me dói. A solidão é tão forte que nem me parece real.
O vazio sem a sua mão na minha, o silêncio sem seus passos apressados – até mesmo a sua música barulhenta. Até nossas brigas me fazem falta – minha irritação com o fato de você nunca se irritar, seu jeito de me abraçar enquanto eu chorava pelo fim. As coisas pareciam mais corretas. Um lar é feito de afeto também, não só paredes.
Agora eu me pergunto, como será que você está? Lembro-me muito bem da sua incapacidade de fazer o almoço sem derrubar alguma panela, ou quase botar fogo na casa. E agora, você aprendeu? Ou pior, meu deus, será que outra pessoa cozinha por você? Ah, não suporto pensar na sua felicidade dentro da minha solidão; mas também não consigo pensar na minha felicidade sem a sua infelicidade – veja, eu finalmente admito na nossa falta de capacidade de ser feliz em conjunto como você tanto gritou na última vez que te vi, está satisfeito agora?

Com toda a perda, sinto que me perdi; e vendo os seus restos jogados pela casa me pergunto o que sobrou de mim no meio dessa bagunça que eu chamava de amor. Eu era inteira antes, por que não mais? Cadê a minha parte que você levou contigo? – Devolva-me, por favor, preciso estar inteira novamente. Posso lhe esquecer com os dias, posso me adaptar ao silêncio, mas não posso viver sendo metade de uma pessoa. Traga-me de volta e leve contigo o que restou de ti comigo- até lá eu continuarei aqui, te sentindo nos cantos e cômodos, metade de mim.




(Sim, por mais que eu esteja amando essa cidade, a solidão me deixa triste, haha)

Um comentário:

Gam disse...

Haha, sei como é. Demora pra se acostumar.
Mas pense pelo lado bom, provavelmente você vai acostumar mais rápido do que eu! :X